Beira Meu Amor

A Beira foi o grande amor da minha vida. Recebeu-me com seis anos, em Novembro de 1950 e deixei-a, com a alma em desespero e o coração a sangrar, em 5 de Agosto de 1974. Pelo meio ficaram 24 anos de felicidade. Tive a sorte de estar no lugar certo, na época certa. Fui muito feliz em Moçambique e não me lembro de um dia menos bom. Aos meus pais, irmão, outros familiares, amigos e, principalmente, ao Povo moçambicano, aqui deixo o meu muito obrigado. Manuel Palhares

Archives
A minha foto
Nome:
Localização: Odivelas, Lisboa, Portugal

quinta-feira, fevereiro 19, 2009

Outros Carnavais - Senhor Bôto e Rosita Portugal








































Meus caros amigos,
Neste serão de uma quarta-feira de Fevereiro, quando se aproximam de novo as festividades do Carnaval, lembro-me com saudade dos carnavais que passei na Cidade da Beira, em Moçambique.

Como tudo era maravilhoso naquela altura!
Recordo-me, era eu uma criança, das matinés de carnaval nos cinemas Rex e Olímpia. Eram sessões preparadas para a criançada, com séries de aventuras com o Superman, o Batman, ou o Homem Bala; os pequenos filmes de "cowboys" e índios, com o Roy Roger, ou o Tom Mix; as pequenas comédias com o Bucha e o Estica, o Charlot, ou Os Três Estarolas; os desenhos animados com essas figuras de encantar e que ainda hoje continuam a fascinar a criançada em canais de televisão; os jornais noticiosos para a miudagem, com notícias ternurentas das relações dos animais entre si ou com o ser humano; as apresentações dos filmes que iriam posteriormente passar nessas salas de cinema e que nos aguçavam o apetite para futuras idas ao cinema.
E assim se chegava ao primeiro intervalo, com a corrida ao bar e à casa de banho, período durante o qual os mascarados passeavam, todos compenetrados, os fatos com que iam vestidos. No intervalo também se brincava com as serpentinas e com os confetis, sendo proibidas as bombas de mau cheiro, os estalinhos de fósforo e as bisnagas de água, os quais eram reservadas para o espaço exterior ao cinema.
Dling-dlong, chamava por nós a campainha!
E lá íamos em correria ocupar os nossos lugares na sala, para assistirmos à primeira parte de um um filme especialmente escolhido, de modo a que a criançada saísse de lá satisfeita, embora pelo meio houvessem momentos que poderiam ser de alguma tristeza e apreensão, mas no fim acabava tudo em bem.
Nessa altura, os filmes eram os clássicos da Disney, do Rim Tim Tim, ou da Lassie e, claro, uma ou outra "cowboyada" com índios à mistura. Nas cenas mais excitantes víamos mais do ouvíamos, pois, com a excitação, gritávamos e aplaudíamos e o barulho era contagiante e punha-nos ao rubro.
Para acalmar, lá chegava a altura do segundo intervalo, com discussões acaloradas sobre o que tínhamos vistos e previsões sobre como tudo iria terminar.
No fim, depois de vista a segunda parte do filme, era ver a alegria estampada nos rostos de todos nós, no meio de uma algazarra ensurdecedora...
Não posso acabar esta crónica sem prestar homenagem a um casal maravilhoso que vivia na Beira e que alegrava imenso a criançada nas festas do Natal, do Carnaval e nos Santos Populares!
Ele, era o Palhaço, O Senhor Bôto, e ela, era a sua "Partenère", a Rosita Portugal! Actuavam nos palcos das salas de cinema, geralmente no final das sessões cinematográficas.
Ele fazia de palhaço, fazia ilusionismo e fazia play back de músicas famosas e ela ajudava-o.
Chamavam a criançada ao palco e faziam concursos: ver quem rebentava primeiro um balão, quem encontrava primeiro, com a boca, um rebuçado embrulhado em papel e dentro de um prato fundo e cheio de farinha, ajudá-lo nos números de ilusionismo... que magia aquele casal bom e sem filhos deixava em nós...
A última vez que me lembro de os ver actuar foi numa barraquinha, no Beira Terrace, nos Santos Populares, já eu tinha para aí uns dezasseis ou dezassete anos.
Andei à procura de uma fotografia que tinha deles, salvo erro dedicada ao meu irmão Nani, para a publicar aqui, mas, infelizmente, não a encontrei.
Obrigado Senhor Bôto, obrigado Rosita de Portugal, por tantas horas de magia e de felicidade que deram às crianças da Beira. São momentos que guardo com muita ternura e saudade no coração!
E, caros amiguinhos, companheiros de uma infância feliz, é isto que hoje me ocorreu contar-vos, na esperança de que alguns de vós ainda se lembrem...
Com amizade e um fraternal abraço,
Manuel Palhares
Odivelas, 19 de Fevereiro de 2009.

9 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Ora então não havia de me recordar do Siô Botto e da Rosita Portugal???
Também eles me fizeram sorrir na minha adolescência...uma adolescência bem feliz por sinal!
E na falta da dita foto, vou enviar-lhe por e-mail as que possuo num dos meus albúns...pode ser que lhe traga ainda mais lembranças!
Um abraço amigo
LenaSousa

quinta-feira, fevereiro 19, 2009 5:59:00 da tarde  
Blogger Manuel Palhares said...

Minha cara Lena,

Acabei de lhe responder aos dois e-mails que teve a amabilidade de me enviar com as fotografias do Palhaço Siô Botto e da sua "partenaire" Rosita Portugal.
Que emoção tão grande me vieram trazer essas fotografias, de um tempo em que nem sabíamos que éramos muito felizes, porque achávamos aquilo que recebíamos como normal. E não era mesmo nada normal, bastava olhar à volta para se verem tantos exemplos de quem não era feliz...mas isso é outro assunto.
Muito e muito obrigado, minha amiga!
Como lhe digo no meu e-mail de resposta, em breve escreverei aqui no blog um artigo em homenagem ao Siô Botto e à Rosita Portugal, onde publicarei as fotografias que me enviou.
Um bom fim-de-semana, cheio de saúde e paz, para si e para os seus.
Um beijinho do amigo grato e ao seu dispor,

Manuel Palhares

sexta-feira, fevereiro 20, 2009 11:23:00 da manhã  
Blogger Unknown said...

Olá Manuel
Tu és assim amigo,vais sempre buscar recordações que nos comovem. Se me lembro bem do Siô Botto e da Rosita Portugal. Como nos deram tanta alegria e como éramos felizes, mas na tua resposta à Lena falas daqueles que à nossa volta o não eram, e nós crianças sem nos apercebermos, mas tal como dizes, isso é outro assunto e um pouco delicado.
Beijinho
Teresa

sexta-feira, fevereiro 20, 2009 4:09:00 da tarde  
Blogger Manuel Palhares said...

Teresinha,

Boa tarde, minha doce amiguinha!
Calculei que também te lembrasses deles e da alegria que provocavam em nós.
Eram duas pessoas boas e doces que não tinham filhos e que amavam os filhos dos outros com toda alegria que nos davam naquelas matinés de encantar.
Hoje, sinto-me com uma sensação de perda e luto pelo fim do MSN e só espero que passe depressa...
Um bom fim-de-semana para ti e para os teus e um beijinho cheio de carinho do amigo sempre ao teu dispor,

Manuel Palhares

sábado, fevereiro 21, 2009 12:27:00 da tarde  
Blogger Unknown said...

Manel
Fiquei triste ao ler a tua resposta, então meu amigo, não fiques triste, vai aparecendo na outra Beira do multiply pois todos gostam tanto de ti. E também ali, apesar de não ser grande coisa podemos sempre fazer um comentário ou responder-te, e assim sempre estávamos em contacto.
Olha que tens por lá ainda muitos amigos que gostam de ti.
Beijinhos
Teresa

domingo, fevereiro 22, 2009 1:39:00 da tarde  
Blogger Manuel Palhares said...

Teresinha,

Não fiques triste que isto há-de passar.
Também eu nutro por todos uma amizade que nunca pensei sentir por pessoas que apenas conheço virtualmente, apesar de isto do virtual também ser em certa medida relativo, pois ao fim de umas dezenas de mensagens trocadas nas comunidades, particularmente e até por conversas telefónicas, as pessoas já se conheçam, embora nuncam tenham estado na presença física uma da outra.
Continuarei a escrever no Multiply, no meu sítio e no da comunidade da Beira, sempre que tiver assunto que valha a pena publicar.
Uma semana feliz e cheia de saúde e paz para ti e para os teus.
Um beijinho do amigo,

Manuel Palhares

domingo, fevereiro 22, 2009 10:46:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Olá Manuel
Eu, como a Teresa, e mais uma vez, não posso pensar que estejas triste. Nós, os amigos, virtuais ou não vamos arrajar maneira de nos comunicarmos sempre.Digo-te eu que após quase 40 anos voltei a encontrar-vos.
Abração e beijo amigos
Marocas

segunda-feira, fevereiro 23, 2009 3:53:00 da tarde  
Blogger Manuel Palhares said...

Marocas, minha doce amiguinha,

Olha, isto é só um período de pequeno luto que em breve passará!
Depois a vida continua e há muitos meios para nos continuarmos a encontrar.
E é como dizes: não podemos voltar a perder amigos de quem não sabíamos há quase quarenta anos.
Um boa semana amiguinha, com muita sáude e paz.
Um beijinho cheio de carinho do,
MPalhares

segunda-feira, fevereiro 23, 2009 6:47:00 da tarde  
Blogger Sofia said...

Hoje conheci, por mero acaso, numa pastelaria no martim moniz - Lisboa, D. Rosa ou Rosita Portugal! Fiquei fascinada com a sua boa disposição e história de vida! Apesar dos seus 86 anos, estou convencida (até porque vi uma foto sua através do seus blogue) que continua com o mesmo sorriso contagiante!

domingo, julho 17, 2011 2:30:00 da manhã  

Enviar um comentário

<< Home

/body>