Beira Meu Amor

A Beira foi o grande amor da minha vida. Recebeu-me com seis anos, em Novembro de 1950 e deixei-a, com a alma em desespero e o coração a sangrar, em 5 de Agosto de 1974. Pelo meio ficaram 24 anos de felicidade. Tive a sorte de estar no lugar certo, na época certa. Fui muito feliz em Moçambique e não me lembro de um dia menos bom. Aos meus pais, irmão, outros familiares, amigos e, principalmente, ao Povo moçambicano, aqui deixo o meu muito obrigado. Manuel Palhares

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Localização: Odivelas, Lisboa, Portugal

domingo, março 05, 2006

Um Lugar Especial - A mesa do meu amigo


Na Beira havia muitos lugares especiais.
Mas o que mais importa, era para quem esses lugares eram especiais.
Por exemplo, este de que hoje vos vou falar, era especial para muitos de nós, principalmente para um amigo de infância, que ali se sentava todos os dias.
Dali dominava-se, com a visão, um dos centros mais estratégicos da cidade da Beira - a Praça do Município. Quem ali estivesse sentado, bem encostado à parede do fundo, dominava, num relance, todo esse lugar. Senão vejamos.
Daquela primeira mesa, junto à montra, do lado esquerdo da mesma, ficava-se com os Correios à nossa esquerda e via-se quem neles entrava e deles saía. Ao sairem dos Correios, as pessoas, ou viravam à direita e passavam pela Farmácia Graça, pela loja de uma velha imigrante e simpática senhora, conhecida por Loja da Frida, pela antiga Casa Caravela, mais tarde casa de artigos ópticos e chegavam ao Café Scala, ou virando à esquerda percorriam alguns passos junto à parede dos Correios e alcançavam o Largo do Município.
Quem ao sair dos Corrreios, optasse por atravessar a rua, tinha em frente o prédio da Pensão Castanheira, que ocupava o primeiro andar, e em cujo rés-do-chão se encontravam o City Stores de um lado e a Casa Ramechande do outro. Ao meio, as escadas de acesso à referida pensão, com a Tabacaria Porto ocupando o vão dessas escadas. Quem optasse portanto por atravessar a rua, ou entrava num destes estabelecimentos comerciais, ou tomava uma de duas opções possiveis: para a direita ia-se em direcção do Prédio Tâmega, que tinha o Montepio no rés-do-chão e para a esquerda passava-se juntinho à mesa, encostada à montra e chegava-se também ao Largo do Município, mas do lado oposto do passeio dos Correios.
Quem estivesse ali sentado, na mesa do fundo, junto àquela montra, tudo isto via e ainda muito mais. Reparem. Olhando para a esquerda viam quem vinha pelo passeio dos Correios e o contornava e que podia ir, ou em direcção ao Prédio F.L.Simões, com a Emissora do Aeroclube da Beira e o Despachante Almeida no primeiro andar e o Banco Pinto & Sotto Mayor por baixo, ou em direcção ao prédio da Associação Comercial e Industrial da Beira, com a Livraria Salema no piso térreo, ou ainda dirigir-se para o prédio Aruângua, com O Novo Lar ocupando a loja do rés-do-chão. Quando este prédio se inaugurou, quem primeiramente ocupou o rés-do-chão e a cave, foi um café que tinha bilhares na cave e onde pelo menos metade dos da minha geração aprenderam a jogar bilhar. Mas isto tudo que vos relato era apenas o que podia observar quem estivesse sentado naquela mesa e olhasse para o seu lado esquerdo.
Quem olhasse em frente, além de atravessar com a vista o Largo do Município em toda a sua extensão, via ao fundo, em frente à fachada lateral do atrás referido prédio Aruângua, o Mercado Municipal e o princípio da rua onde a maior parte do comércio era de beirenses de origem indiana. Mais para a direita, no topo do largo, via-se um dos edíficios coloniais mais característicos da Beira. Todo ele com varandas e pilares em ferro e onde primeiro funcionou um hotel, no primeiro andar, e mais tarde passou a ser a Messe da Polícia de Segurança Pública, cujas instações aliás se situavam em frente à parte desse prédio que dava para a Avenida da República. Do outro lado da rua, na esquina, em frente a esse prédio e ao lado das instalações da P.S.P. , via-se o lindo edifício da Câmara Municipal da Beira, que ficava de gaveto, com uma parte para a Avenida da República e outra parte para a Rua do Aruângua, onde logo a seguir à Câmara se situava a Esquadra da P.S.P..
Começamos olhando para a esquerda, depois em frente e agora, atravessando da Câmara para a nossa direita, fechando o quase âgulo de giro que representa tudo o que se via daquela mesa e já deixando a visão percorrer os edifícios que unem o fundo do largo, ao nosso local de observação, vemos um edifício com uma Casa de Ferragens no rés-do-chão, de que não me recordo agora o nome, mas penso que quando publicar este texto no Grupo da Comunidade da Beira, algum dos amigos se deverá lembrar. Ao lado desse prédio, ficavam, primeiro as instalações da Companhia Colonial de Navegação e ao lado destas, as intalações da Repartição de Finanças. Finalmente e fechando o círculo, o edifício da Companhia de Moçambique, com a Pastelaria Riviera do lado direito e o Lar Moderno do lado esquerdo. Atravessando a rua, os meus amigos dirigem-se agora para o prédio onde se situam as instalações onde se encontra o meu amigo, que dali tudo domina apenas com a visão, quase sem precisar de mexer a cabeça. Entram pela porta oposta ao sítio onde ele se encontra. Ele está lá ao fundo, no canto oposto, de costas para a parede que confina com o City Stores, na mesa do fundo, junto à montra que dá para os Correios. Ele, o meu amigo, é o Manuel Costa, o Costinha, que tem ali, no Café Capri, montado o seu posto de observação e daquele sítio nada lhe escapa, principalmente as lindas turistas rodesianas e sul-africanas que visitam a nossa cidade.

Manuel Palhares

Odivelas, 5 de Março de 2006.


* Imagens retiradas da Comunidade da Beira.

20 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Manel
Acabei de almoçar e cá estou sentado na "minha" mesa. Fui o primeiro a chegar. Segui o teu olhar e vi tudo inclusivé a tal casa de ferragens a Búzi Comercial. Fizeste-me recordar bons tempos. Obrigado AMIGO.
Um abraço
M.Costa

segunda-feira, março 06, 2006 2:04:00 da tarde  
Blogger Manuel Palhares said...

Costinha,

Eu hoje não pude aparecer, mas amanhã não falto.
É isso. A Búzi Comercial!
Um abraço,

Manel

segunda-feira, março 06, 2006 3:33:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Manel,
Bela memória a tua.
Sabes, vivi quatro anos na Beira, sendo que 80% do tempo passado dentro de quatro paredes nomeadamente o internato do Colégio Luis de Camões.
Fui para lá em 1969 e saí em 1972.
Resultado, mal conheço a Beira e "não gosto dela".
Mas .... mas, entende o meu não gostar, por favor: eu era aluna interna, só ía a LM nas férias ( não em todas e tínha de provar que merecia ir a casa ), estava afastada dos meus amigos e dos meus familiares. E as saídas dos alunos internos do colégio era muito limitada. Missa aos domingos, algum evento público a que eramos obrigados a ir, um cineminha de seis em seis meses e pouco mais.
Passei quatro anos vendo o mesmo jardim, em frente ao internato feminino e que ficava, acho, numa rotunda, e a fazer todos os dias o mesmo percurso do internato para o edifício do colégio e do colégio para o internato.
Não te sei dizer nomes de ruas nem locais da cidade, excepto uma coisa: as traseiras do colégio davam para a (que ficou famosa) pastelaria Mexicana.
Será que só por mero acaso tens fotos desses locais ?
Beijo grande

terça-feira, março 07, 2006 1:04:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Manel
Estou com muito trabalho, mas fizeste saltar minhas memórias de menina. Eu volto para te contar mesmo ali o que comigo se passou .
um beijinho da Isabel

terça-feira, março 07, 2006 8:25:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Querido Manuel Palhares,

É só para ver se o comentário que digitei ontem está cá.

Um beijinho muito afectuoso, da Aida

terça-feira, março 07, 2006 2:26:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Querido amigo Manuel Palhares,

Afinal não está,

O espaço da minha conta estava demasiado sobrecarregado.

Ainda não foi desta!

Um dia destes farei mais uma tentativa, tendo o cuidado de ver previamente como está a minha conta

terça-feira, março 07, 2006 2:31:00 da tarde  
Blogger Manuel Palhares said...

Coca-cola,

1º- Recebeste o meu e-mail com a minha atrasada resposta?
2º- Pois! Gostar da Beira ou de outro lugar qualquer, nas condições em que lá estiveste, é muito difícil realmente e compreendo perfeitamente o que dizes. A Beira, assim, foi apenas o lugar em que te puseram na prisão. Nessa circunstãncias eu também não gostaria.
3º- Aqui fica um link, do grupo da Comunidade da Beira, que te remete para fotografias do Colégio Camões. Há mais fotografias do colégio mais acima e mais a baixo. Depois é uma quetão de procurares. Também há fotografias da Mexicana. Nas mensagens há relatos de ex-alunos do Camões.

http://groups.msn.com/Beira/orlandooliveirabeira.msnw

Pronto minha amiga, espero que te sirva para alguma coisa.

Um beijinho,

Manel

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Isabel,

Então isso é lá coisa que se faça?! Aguças a nossa curiosidade e depois nem a ponta do véu levantas. Lol!
Ficamos a aguardar essa história, minha amiga.
Um beijinho,

Manel

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Minha querida amiga Aida,

Parabéns! Estás a ver?! Quem porfia sempre alcança, diz o ditado e é bem certo, pois é a voz da sabedoria do povo.
E há falta de uma mensagem, hoje já aqui colocas duas. Só uma pergunta: carregavas no Preview, não?
Um beijinho carinhoso,

Manel

terça-feira, março 07, 2006 5:41:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Fabuloso 'post', Manel!!, grande % comovido abraço, fif'.

quarta-feira, março 08, 2006 12:45:00 da tarde  
Blogger Manuel Palhares said...

Obrigado Fif,

Bondade tua.
Um beijinho,

Manel

quarta-feira, março 08, 2006 1:23:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Manel, meu Amigo
Recebi o mail sim mas só hoje ... ontem estive longe do compu e nos outros dias nem me lembrei de andar a correr "as capelinhas todas" para ver a correspondência.
Erro meu, claro.
Mas vou-te responder.
Ah, se quiseres que escreva para outro mail, tens de me dizer qual.
Beijo grande

quarta-feira, março 08, 2006 4:25:00 da tarde  
Blogger Manuel Palhares said...

Olá Coca-Cola,

Viva, minha Amiga,

Ainda bem que recebeste o e-mail.
O meu e-mail é o mesmo.
Obrigado e um beijinho,

Manuel

quarta-feira, março 08, 2006 5:47:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Manel
Pões louco com as tuas recordações.
A tua poesia e a tua prosa poética vão acalentando o desejo cada vez mais forte de voltar para aí após a minha reforma e fazer "uafa".
Acredita que sou um leitor diário de tudo que aparece c0m o teu nome.
Um abraço muito forte e cheio de saudades do teu eterno irmão de infancia ´
AOFranco

sexta-feira, março 10, 2006 2:16:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Aníbal, meu querido amigo,

Também eu tenho muitas saudades de tudo e de de todos.
Não sei o que é que me deu para desde Julho p.p. para cá, começar a publicar estas pequenas histórias e "poemas" sobre a nossa infãncia e o paraíso em que vivemos. Mas voltar para lá, não, nem sequer lá ir. Prefiro recordar com a ajuda dos milhares de fotografias que por aí há.
Abraça-te faternalmente, aquele a quem, por vezes, aturaste algumas perrices...

Manel

sexta-feira, março 10, 2006 5:23:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Manel,

Fizeste bem em criar
Um blog para escrever
Histórias de encantar
Realidades de doer

Saudade não tem tradução
Acompanha a todos nós
Faz doer o coração
Viver e soltar a voz

Sendo possível escolher
Entre o ir ou o ficar
De certo ía querer ver
E novamente recordar

Em 2004 finalmente parti
Prá terra que me viu nascer
Nunca até hoje m´arrependi
Foi um novo renascer

Se eu pudesse opinar
Ou ajudar-te a decidir
Dir-te-ía vai viajar
Não tens porque fugir


Fica bem.
Bom final de semana
Beijinhos

sábado, março 11, 2006 6:19:00 da tarde  
Blogger Manuel Palhares said...

Coca_Cola,

Mais uns lindos e apropriados versos. É já com algum atraso que te respondo e agradeço os votos de bom fim-de-semana.
Um beijinho e boa semana para ti.

Manel

segunda-feira, março 13, 2006 11:52:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Querido Manuel Palhares,
De facto não tenho sorte no que escrevo no teu blog.
Ontem, acompanheite no passeio pela Baixa de Beira.
É certo que não esquecemos nada do que nos rodeou nos tempos de infância.
A comprová-lo está a exactidão com que recordas os nomes de todas as ruas e estabelecimentos comerciais, etc.
Também vivi na Beira cerca de dois anos.
Vivia no Maquinino (é assim que se chama o bairro do outro lado da ponte sobre o Chiveve?)
Morava perto do quartel militar, num prédio de rés do chão e primeiro andar.
Eu morava no pimeiro, Esq.
Tinhamos a esquadra da PSP paredes meias. Os habitantes do prédio eram todos militares excepto o meu marido.
Formavamos um grupo coeso e festejávamos juntos todas as festas gerais e particulares. Eramos conhecidos pelo nome de "Grupo Sempre em Festa".
De facto a nossa vida era uma festa permanente. E nos dias de muito calor íamos para a Praia monidos de bebidas frescas.
Por ali ficávamos até à meia noite, hora em que começava a refrescar (nessa altura ainda não tinham chegado a Moçambique os aparelhos de ar condicionado) e era a única maneira que tinhamos de nos refrescar um pouco.
Que saudades tenho desse tempo!
Muito obrigada por me fazeres recordar tempos tão belos da minha vida.
E um beijinho com muito carinho, da Aida para ti querido amigo!

sexta-feira, março 24, 2006 2:58:00 da tarde  
Blogger Manuel Palhares said...

Minha querida amiga Aida,

Não percebi porque dizes não teres sorte com o que escreves aqui?!
Que prazer receber estes teus lindos comentários, sobre a tua estadia nessa terra feiticeira.
Que bom era apanhar fresco à beira-mar! E eu que vivi em frente à praia, junto ao Jardim do Bacalhau e ao Pavilhão Oceana. Ah! Que infância, que adolescência, que tudo...
É como tu dizes, o bairro do outro lado do rio, era o Maquinino.
Desta vez o teu texto está grandinho e não houve problemas. Ainda bem. Já estás a ficar uma especialista nisto.
Um bom fim-de-semana, minha querida amiga e um beijinho,

Manel

sexta-feira, março 24, 2006 6:20:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Querido Manel!

Como eu adforei percorrer a Praca do Municipio através das tua palavras , que memória tao real , como sempre....Adorei voltar á nossa Beira..kanimambo!

Um beijinho com muito carinho

Lena

terça-feira, abril 04, 2006 9:46:00 da tarde  
Blogger Manuel Palhares said...

Querida Lena,

Que alegria me dás em ver-te por aqui.
Obrigado pelas tuas amáveis palavras.
Um beijinho, com muito carinho e amizade,

Manel

quarta-feira, abril 05, 2006 3:23:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

O tempo passou rapiiiido e a memória levou quase tudo...
Mas lembro muitas vezes amigos que lá deixei e que guardo no meu coração.

Preciso de uma ajuda que me Oriente nesta minha procura.
Será possível dar-me alguma orientação.
Eles ficaram pela cidade da Beira em 74. Depois....depois só as memórias...
Toda a ajuda eu agradecerei com gratidão.

Maria

quinta-feira, julho 11, 2013 4:00:00 da manhã  

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