Beira Meu Amor

A Beira foi o grande amor da minha vida. Recebeu-me com seis anos, em Novembro de 1950 e deixei-a, com a alma em desespero e o coração a sangrar, em 5 de Agosto de 1974. Pelo meio ficaram 24 anos de felicidade. Tive a sorte de estar no lugar certo, na época certa. Fui muito feliz em Moçambique e não me lembro de um dia menos bom. Aos meus pais, irmão, outros familiares, amigos e, principalmente, ao Povo moçambicano, aqui deixo o meu muito obrigado. Manuel Palhares

Archives
A minha foto
Nome:
Localização: Odivelas, Lisboa, Portugal

sexta-feira, fevereiro 24, 2006

Ciúmes no Masculino


- Olá, estás bom? - perguntei eu, meio a brincar, meio receoso, com a reacção que a minha longa ausência podia ter provocado.
- É preciso não ter vergonha na cara! Não apareces por aqui desde as quatro da manhã do dia cinco de Dezembro e ainda perguntas se estou bom?! Passaram o Natal e o Fim-do-Ano e tu nada. Nem um simples telefonema com uma qualquer esfarrapada desculpa. Primeiro, enquanto precisaste de mim, eram só juras. Gosto muito de ti - dizias, preciso muito de ti - afirmavas, não posso passar sem ti - continuavas, sem ti estou perdido - bajulavas. És o meu querido e o meu lindinho - não tinhas vergonha de o afirmar perante tudo e todos, para quem te quisesse ouvir. Sabes o que tu és?! És um fingido, um hipócrita, um jesuíta, um falso, um sem carácter, um vendido, um lambe-botas, um mariazinha vai com os outros, um vira-casaca. Foi só o outro aparecer e, coquete e volúvel como és, trocaste-me logo por ele, esquecendo todas as juras que me fizeste.
- Calma, calma! O que para aí vai. Tem calma. Deixa-me explicar.
- Qual explicar, qual quê! Para quê?! Para ouvir mais mentiras?! Anda, volta lá para o teu querido, seu ingrato. Eu sei que ele é muito mais fascinante que eu, pois já não passo de um pobre velho coitado.
- Estás a ser injusto. Não é nada disso. Deixa-me falar.
- Ah! Eu é que estou a ser injusto?! Essa é boa. Eu que sempre fui o teu suporte, que sempre apoiei e suportei, sem um queixume, o peso das tuas inseguranças e hesitações! E quando te enganavas, era eu que aguentava com as tuas fúrias, com os teus erros. Era sobre mim que eles ficavam marcados - não vês como estou todo arranhado?! Mas foi só aparecer o outro e, fútil como és, ficaste logo caído de amores, e esqueceste todas as juras que me fizeste. Ingrato! Metes-me pena.
- Estás cheio de ciúmes e não tens razão para isso. É de ti que eu gosto. Mas fui fazer uma experiência, não consegui resistir. Qualquer um pode cair em tentação. Errar é humano!
- Pois, para ti é fácil dizeres isso, faz parte da tua pobre condição. És um fraco, é o que tu és. Viste-o, cheirou-te a novidade, e lá foste fazer mais uma experiência, sem te importar quem ferias. É mesmo típico dos da tua laia.
- Pronto! Desabafa lá. Deita tudo cá para fora. Mas depois quero que me deixes explicar o meu ponto de vista.
- O teu ponto de vista?! O teu ponto de vista?! É preciso mesmo não ter nehuma vergonha nessa cara. Meste-me nojo.
- Bem! Agora quem já está a ficar farto de tanta ciumeira sou eu. Não suporto mais esta caricata situação. Já te disse e repito que aquilo foi um pequeno devaneio. Deixei-me levar pela novidade. Foi uma pequena tentação que estava ali mesmo à mão. Fui fraco, não resisti, confesso.
- Desavergonhado!
- Vá lá, acalma-te, perdoa-me. Sabes bem que foi sempre sobre ti que derramei as sementes que originaram os frutos da nossa união, do nosso amor. Foi sempre contigo que compartilhei as alegrias, as tristezas, as emoções, os afectos, os sucessos e os insucessos. Eu sei lá que mais te dizer, para te convencer que tu foste e és o grande amor da minha vida. O resto foi paixão passageira, efémera, brejeira.
- Dizes bem. Foi sobre mim, no meu corpo, imaculado e virgem, que derramaste as sementes que abriram nos frutos que comigo deixaste. Mas, na altura própria, não te lembraste disso e ligeiro foste, na hora em que pecaste. Vai, vai ter com ele. Aliás sempre desconfiei um pouco de ti. Não sei porquê, mas as tuas juras de amor soavam-me a falsas. Larga-me de vez, volta de novo para essa tua volúvel e nova paixão. Fica de vez com ele e não voltes mais. Estão bem um para o outro. Não tens vergonha na cara. Já velho, agora é que te lembraste de arranjar outro, ainda por cima muito mais novo, para te aturar na velhice. Fica com o entusiasmo de mais uma nova paixão. Eu, volto a ficar limpo, puro e imaculado. Que esperas?! Volta para o teu novo brinquedo, volta lá para o teu computador e deixa-me a mim, o teu velho caderno de linhas, que já te foi tão útil, sossegado.


Manuel Palhares

Odivelas, 24 de Fevereiro de 2006.

6 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Manel,
Acho que já virou mania uma visita diária aqui.
Ciúmes no masculino, está uma maravilha! A tua maneira de falar sobre sobre o amor, o ciúme(à terra. ao papel etc etc) me impresiona! Olha lá que tomas o lugar do Vinícius, Carlos Drumond...sinceramente estou em dúvida se não é o Manel que já passou à frente deles..
Beijinhos,
Mayra

sábado, fevereiro 25, 2006 4:31:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Manel,
Ao texto respondo depois....para já só queria saber se recebeste um e-mail meu.
Beijinhos e bom sábado.

sábado, fevereiro 25, 2006 9:44:00 da manhã  
Blogger Manuel Palhares said...

Mayra,

Olá minha amiga1
Aqui já é noite e esteve um muito feio dia de inverno.
Fico contente por teres gostado do texto. Mas não exageres, não é?! Lol!
Um bom domingo para ti e para os teus.
Um beijinho,

Manel

*********************************

Coca-cola, minha amiga,

Como tento não ser mentiroso, andei hoje à procura, por tudo o que é pasta, para ver onde estaria o teu e-mail e não o encontro.
Portanto, mandas-te sim um e-mail, desta vez assinado, que não sei onde o arquivei.
E o pior - isto continuando a não querer mentir - é que continuo a não me lembrar do teu nome. Aliás, já anteontem quando o recebi não me recordei do teu nome!
Será que foi devido ao desastre que me deixou muito nervoso?!
Perdoa-me e manda-me, por favor, de novo, o e-mail. Rogo-te!
Um bom fim-de-semana e um beijinho ,

Manel

sábado, fevereiro 25, 2006 7:20:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Manel,

Mas que peça nos pregaste
Com este texto de ciúme
Dois masculinos, é verdade
Quanta dor ... que queixume.

No final ri-me pra valer
Por situação inesperada
Erro meu, é pr ´aprender
A não ser precipitada.


Já reenviei o e-mail.
Bom domingo e aproveita para te distraires com as marchinhas carnavalescas.
Beijinhos.

domingo, fevereiro 26, 2006 10:48:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Caro Manel,
Os meus parabens pelo teu excelente Blog.
Aprecio em particular as tuas historias sobre Moçambique. Algumas ja conhecia dos AVM e MGM (que visito +/- regularmente e onde ja tive a ocasião de te felicitar).
Nasci na Beira, cresci em Moçambique, onde vou ainda de tempos a tempos por razões profissionais. Em particular à ... Beira !
Conta mais. Tens aqui um leitor fiel !...
Um grande abraço.
Fernando Sampaio

domingo, fevereiro 26, 2006 3:26:00 da tarde  
Blogger Manuel Palhares said...

Coca-cola,

Eu bem me parecia que não andava longe de saber quem a menina é.
Agora estou perfeitamente ilucidado, o que agradeço. Lol!
Já encontrei os dois e-mails e aquele meu e-mail é o que uso para o "Caixa de Correio para as Publicações dos Leitores".
Continua a enviar a tua excelente poesia, com a boa disposição do costume.
Um beijinho,

Manel

**********************************

Caro Fernando,

Muito obrigado pela tua visita e pelas palavras que me diriges. Tens aqui um lugar sempre ao teu dispor para publicares o que entenderes.
É uma alegria corresponder-me com um beirense e que ainda por cima volta e meia lá vai.
Um grande abraço,

Manel

domingo, fevereiro 26, 2006 4:56:00 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home

/body>