Beira Meu Amor

A Beira foi o grande amor da minha vida. Recebeu-me com seis anos, em Novembro de 1950 e deixei-a, com a alma em desespero e o coração a sangrar, em 5 de Agosto de 1974. Pelo meio ficaram 24 anos de felicidade. Tive a sorte de estar no lugar certo, na época certa. Fui muito feliz em Moçambique e não me lembro de um dia menos bom. Aos meus pais, irmão, outros familiares, amigos e, principalmente, ao Povo moçambicano, aqui deixo o meu muito obrigado. Manuel Palhares

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Localização: Odivelas, Lisboa, Portugal

domingo, janeiro 29, 2006

História de Portugal Revisitada - Versão 2005


Eu tenho muitos amigos
Que não sabem que o são,
Por incrível que pareça
Nem me conhecem até!
É que eu sou amigo dos pobres,
Dos sem tecto e sem abrigo,
Dos deserdados da sorte,
Dos bastardos desta vida:
Daqueles que nos incomodam
Quando os vemos passar!
É o mundo que criámos
Todo em chagas, todo em feridas:
São as crianças sem pais
Que se arrastam pelas ruas,
Pelas veredas frias
Da sua pobre existência,
Aquelas que deviam estar
A cargo da previdência.
Mas neste virote constante,
Neste abastardar da ética,
Quem quer saber de crianças?
Quem se incomoda, quem se importa,
Com a ética e com a moral?
Quem pode ainda acreditar
Em presidentes, ministros e deputados
Em autarcas de Câmara ou de Junta
E em todos os seus delegados?
Perguntem aos pobres velhos
O que é que lhes dói mais:
Os problemas da saúde e da idade,
Ou os da falta de dignidade?
Todos os tratam mal
Com falta de educação:
É o médico, é o juiz,
O banco que lhes paga a pensão.
É a segurança social
Quem lhes verga mais a espinha,
Quando os obriga a ficar
Noite fria às esquinas,
Para lhes sortear umas senhas
Para os merdas da medicina.
Isto ainda é uma Nação,
Mas já não é um Estado!
Que esperam que nos aconteça?
Até os espanhóis, que nos compraram,
Já estão agora a vender.
Mas como é possível que um povo
De um pequeno país,
Que já deu mundos ao Mundo
Tenha batido no fundo?
Um povo onde nasceu:
Afonso e Sancho, os primeiros,
Afonso o terceiro e Diniz,
O Mestre e o Condestável,
Esteja neste estado lastimável?
Um povo de navegadores
De coragem indomável...
Um povo que teve o segundo João
Que assinou tratados geniais
De fazer inveja aos políticos actuais:
Que com Tordezilhas nos deixou o Brasil,
E o resto aos demais.
Tivemos um Gama, um Cabral e um Albuquerque!
Um povo que teve Camões,
Que disse que morria com a Pátria,
E a Pátria morreu com ele.
Cá nasceram Herculano e Garrett
A geração de setenta, a dos vencidos da vida:
Gerra Junqueiro, Oliveira Martins, Eça de Queirós
E esse único, singular e inigualável,
Esse puro e verdadeiro Antero de Quental.
Pátria desse inimitável Camilo,
De Cesário Verde e de António Nobre.
Quem é que pode acreditar
Nestes governantes fantoches?
Um povo que ainda teve:
Pessoa, José Régio, Eugénio de Andrade.
E que ainda hoje coloca
Entre os 250 melhores cientistas do mundo:
António Damásio, António Coutinho e Carlos Duarte.
Este último, cansado deste “fartar vilanagem”,
Com receio que lhe estragassem a vida,
Naturalizou-se espanhol e mudou-se para Espanha!
Realmente já somos apenas uma Nação:
Porque o Estado já caíu.
Como diria José Régio:
Vai de rojo pelo chão!
E sabem o que nos resta
Desta Pátria exangue e moribunda?
Aquilo que previa Fernando Pessoa:
“A minha Pátria é a Língua Portuguesa”!
Caíu de podre o regime,
Que governou meio século,
Este povo conformado, resignado e triste.
E quando se viu solto e livre,
Das correntes que o prendiam e amordaçavam,
Não soube aproveitar a sorte,
Deitou-se de barriga para o ar:
Passeios, banhos de sol e de mar!
Que isso de trabalhar agora,
Era bom só para os outros:
A Europa até nos pagava,
Pagava que se fartava,
Para deixarmos de trabalhar,
Para deixarmos de produzir.
Agora é um “Ai Jesus”
Com as firmas a falir:
Não há trabalho, há desemprego.
Mas tudo se resolve
Com o recurso ao empréstimo:
Com dez ou vinte cartões de crédito,
Nada disto é anormal,
Nada disto é inédito!
Depois levanta-se aqui,
Para ir pagar ali.
E assim se vai vivendo:
Ninguém vê esse mostrengo
Que nos vai minando a Pátria.
Corrupção, roubos à descarada,
Nem com os conflitos de interesse
Se importa a macacada.
Acumulam autarquias, com metros e futebóis:
O que faz falta e é preciso
São empregos para os “boys”.
Não sabem nada de banca,
Nem sabem nada de petróleos?
Que interessa? Que importa?
“O povo deu-nos o poder!
Então é nosso dever,
É mesmo obrigação,
Fazermos cá entre nós
Esta sábia distribuição.”
E se correr mal, paciência,
Não foi inépcia nossa, foi azar!
Vamos embora para fora,
Vamos também para a Europa!
E quem cá ficar que se lixe:
Entreguem esta coisa de novo à tropa!
Essa quer submarinos, helicópteros e canhões,
Muitas medalhas no peito, barcos e aviões.
Estou admirado, como ainda não pediram,
Para brincarem também, um porta-aviões!
Não um daqueles a diesel ou energia solar(1) :
Comprem logo um mais moderno,
Movido a energia nuclear!
Uma Ota e um T.G.V.?
Que disparate ser tão pouco:
Façam logo duas e três!
Para quando isto estoirar,
Também podermos cavar,
Com um tachinho de “iscas com elas”(2)
Para comer no caminho.
Ah! Já me esquecia do vinho!
Vamos de mão estendida,
Para as esquinas de Bruxelas!


(1) - Haverá? Não deve haver...
(2) - O menu pode variar. Também podem ser jaquinzinhos ou pasteis de bacalhau! Porém já não rima com Bruxelas. Mas quem é que nesta altura se vai preocupar com rimas?!


Manuel Palhares

Odivelas, 2 de Setembro de 2005.


Anexos:

Anexo 1:

Cessem do sábio Grego e do Troiano
As navegações grandes que fizeram;
Cale-se de Alexandre e de Trajano
A fama das vitórias que tiveram;
Que eu canto o peito ilustre Lusitano
A quem Neptuno e Marte obedeceram.
Cesse tudo que a Musa antiga canta,
Que outro valor mais alto se alevanta.

Luís de Camões – Lusíadas

Anexo 2:

Heróis do mar, nobre povo
Nação valente, imortal,
Levantai hoje de novo
O esplendor de Portugal!
Entre as brumas da memória,
Ó Pátria, sente-se a voz
Dos teus egrégios avós,
Que há-de guiar-te à vitória!

Alfredo Keil (música) / Henrique Lopes de Mendonça (letra) – A Portuguesa: O Hino Nacional!


Pergunta final!

Por que razão é que nos ensinaram estas coisas?
Fiquem bem!

M.P.

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